Desenhos de Oscar Niemeyer
vão a leilão no Rio
Coleção que pertenceu à filha dele, a galerista Anna Maria, inclui mais de cem originais do arquiteto, além de obras de vários artistas
ROBERTA PENNAFORT / RIO - O Estado de S.Paulo
Quatro meses
depois da morte da galerista Anna Maria Niemeyer, filha única de Oscar
Niemeyer, sua vasta coleção de obras de arte vai a leilão no Rio. São 750 itens
à venda, neles incluídos mais de cem desenhos originais do arquiteto, que
também assinaram móveis e imagens femininas de traços econômicos impregnadas de
poesia.
A expectativa
é de que os 557 lotes levantem, no mínimo, R$ 5 milhões, a serem distribuídos
pelos quatro filhos de Anna
Maria. Entre as
peças assinadas por Niemeyer,
raras em leilões, estão serigrafias, esculturas e um relógio de uma edição
especial em homenagem a Juscelino Kubitschek que ele deu de presente à filha em
2002. Tudo junto vale pelo menos R$ 1.447.800.
Do
conjunto do arquiteto, o item mais barato é um cartaz feito para um salão de
arte mineiro em 1983, com lance inicial de R$ 650. O mais caro, o conjunto
formado por uma poltrona e uma banqueta estofadas em couro, a R$ 44 mil. Anna
Maria, que era designer de interiores e trabalhou com o pai na execução do
mobiliário de prédios públicos de Brasília, também assinou várias peças.
Textos.
Alguns
desenhos vêm com pequenos textos em que Niemeyer declarou suas intenções. Por
exemplo, o monumento desenhado para a Petrobrás em 2003 por ocasião do
cinquentenário da empresa. "As duas formas abstratas que desenhei podem
exprimir, no seu movimento ascendente, a competência e o patriotismo que
marcaram estes 50 anos de vitórias sucessivas da Petrobrás em nosso País."
Na
singela imagem de um homem solitário que desenhou sobre a superfície da Terra,
escreveu: "Vale a pena o céu, sentir como o ser humano é frágil,
insignificante, sem perspectiva. Mas sem esquecer que a vida tem de ser vivida
e rir e chorar é o nosso destino."
"São
imagens que pouca gente conhece", diz Soraia Cals, a organizadora do
leilão, marcado para os dias 29, 30 e 31 e 1.º de novembro, em Copacabana. O
leiloeiro será Evandro Carneiro.
"Tem
coisas que minha mãe guardava desde que era menina", conta a filha Ana
Elisa Niemeyer, que, como os irmãos, retiraram do leilão objetos de valor
afetivo. Já os demais descendentes não tiveram a mesma oportunidade, conta o
neto Paulo Sérgio Niemeyer, filho de Ana Elisa. "Se puder, vou comprar alguma coisa no leilão."
Internado.
Nesta
segunda-feira, 22, Niemeyer, que tem 104 anos, continuava internado no
Hospital Samaritano. Lúcido, alimentava-se normalmente.
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