Casas já doadas em Palmares são alugadas ilegalmente
LEANDRO COLON
ENVIADOS ESPECIAIS A PALMARES (PE)
ENVIADOS ESPECIAIS A PALMARES (PE)
Enquanto centenas de vítimas da
enchente de 2010 ainda aguardam as casas prometidas pelo governo de Pernambuco,
moradores já beneficiados alugam os imóveis doados a eles, o que é ilegal.
Bernardo Dantas/Folhapress

Integrante de uma ONG local, Sandra Aparecida
Leoni não é vítima da enchente. Mesmo assim, vive numa casa construída para
quem perdeu tudo na cheia de 2010.
Abordada de surpresa pela Folha,
ela contou que paga R$ 200 mensais para morar em uma das casas. Admitiu que
alugou "na surdina" o imóvel
doado ao cunhado de uma vizinha dela, Denivalda das Neves, 47. Ela confirma.
Segundo ela, o cunhado, Genilson José
da Silva, recebeu a casa do governo, mas, como tem outra, optou por alugar a
que ganhou.
A aposentada Otília Luzinete da Silva,
58, também diz que mora de aluguel há três meses e paga R$ 200 mensais a uma
mulher que identificou apenas como Socorro --não quis dar mais detalhes, com
medo de perder a moradia.
Otília conta que perdeu sua casa na
cheia de 2010, mas não conseguiu se cadastrar para receber uma nova. Segundo
ela, a proprietária da casa teria mais dois imóveis alugados no mesmo conjunto
habitacional.
"Ela disse que não pode dar recibo
e pediu para eu dizer que sou parente dela, se alguém perguntar", afirmou.
"Mas eu não vou mentir."
PROBLEMAS
Em Palmares, desabrigados que receberam
casas reclamam de problemas nos imóveis (como pisos desnivelados) e da falta de
estrutura nos conjuntos habitacionais (falta de água, transporte
público e segurança).
A Folha ouviu em
outras cidades relatos sobre a existência do mesmo mercado clandestino de
imóveis em residenciais ligados à Operação Reconstrução, do governo de
Pernambuco, mas não obteve confirmação.
Famílias aguardam casas prometidas por Campos há três anos em Maraial,ÁguaPreta e Palmares
Bernardo Dantas/Folhapress
Quase três anos após a maior enchente
da história de Pernambuco, vítimas da tragédia ainda esperam pelas casas
prometidas à época pelo governador do Estado, Eduardo Campos (PSB).
A Folha de São Paulo visitou
as cidades de Maraial, Água Preta, Barreiros e Palmares, todas parcialmente
destruídas pela cheia de junho de 2010.
Para erguer novas moradias aos
desabrigados desses municípios, o governo de Pernambuco recebeu R$ 50 milhões
do Ministério da Integração Nacional para obras de terraplanagem e outros R$
151 milhões da Caixa Econômica Federal para construção e doação de
3.600 unidades. Tudo em caráter emergencial.
Como gestor da Operação Reconstrução, o
governo de Eduardo Campos assumiu a tarefa de indicar terrenos, escolher construtoras,
cuidar da infraestrutura de água, esgoto e energia elétrica e cadastrar
beneficiários.
"Nós juntos vamos reconstruir como
outras nações conseguiram se reconstruir", disse Campos em julho de 2010,
no discurso em que se lançou à reeleição no Estado.
Aposta do PSB para a Presidência em
2014, Campos tem alta popularidade em Pernambuco e vem ensaiando um desembarque
da base de apoio do governo de Dilma Rousseff sob o mote de que "é
possível fazer mais".
PRAZO
As casas, segundo a Caixa, deveriam
estar prontas desde março de 2012. O cenário, porém, é de lentidão e abandono.
Nenhuma obra foi totalmente concluída.
O caso mais grave ocorre em Maraial,
onde o projeto de socorro não saiu do papel. Vacas pastam no terreno onde
deveriam estar 264 casas.
Nos outros três municípios, grandes
placas anunciam a Operação Reconstrução, inconclusa em todos eles.
O governo de Pernambuco disse que a
operação planejou 17.349 novas casas em todo o Estado, mas só 2.600 foram
entregues até agora.
A verba federal para terraplanagem foi
destinada apenas às quatro cidades visitadas pela reportagem. No restante, os
recursos para preparar o solo foram estaduais.
Expondo cadastros feitos pelo governo
estadual em 2010, as vítimas continuam vivendo à beira de rios, em morros e
casas arruinadas.
Como o casal Sebastião da Silva, 47
anos, e Lindalva Maria, 30. Com seis filhos e comprovante do direito ao
benefício na mão, vivem hoje em Água Preta numa espécie de ruína, com banheiro
a céu aberto, à margem do rio Una e de possível nova enchente.
José Amaro da Silva, 35, perdeu o pai
de 72 anos e a casa na cheia de 2010. Espera nova moradia, assim como o aposentado
Nelson João da Silva, 69. "Fiz o cadastro três vezes e nada foi
resolvido."
Há também casas concluídas abandonadas,
cercadas por mato alto. Dezenas foram depredadas, estão sem vidros e com portas
arrombadas.
Do que foi entregue, grande parte está
sem infraestrutura. Faltam água (o abastecimento é por caminhão-pipa) e
iluminação pública. Algumas estão sendo alugadas, o que é proibido porque os
imóveis foram doados.
Governo de PE diz que vai entregar as
casas até 2014
Até agora, apenas 347 casas foram
entregues às vítimas de Água Preta.
A Folha visitou esse
conjunto. Moradores reclamam da falta de água nos canos das casas e de
transporte público, principalmente para levar os filhos à escola.
"Não sai água da torneira. Quando
libera, estoura o cano. A gente teve que comprar caixa d'água, balde",
reclama Angélica de Lima Correia, 29 anos, mãe de três filhos e que vive com
renda de R$ 250 do Bolsa-Família.
Ela reforça ainda a má qualidade da
água distribuída pelo caminhão-pipa, dia sim, dia não. "Meu filho ficou 15
dias internado. O botijão de água filtrada custa R$ 5 e não tenho
condições." (LC e FG)
Bernardo Dantas/Folhapress
Casas já doadas em Pernambuco são
alugadas ilegalmente
Enquanto centenas de vítimas da
enchente de 2010 ainda aguardam as casas prometidas pelo governo de Pernambuco,
moradores já beneficiados alugam os imóveis doados a eles, o que é
ilegal. Em Palmares (PE), a Folha constatou negociações de imóveis doados a
desabrigados da enchentes e encontrou pessoas que confirmaram morar de aluguel
nas casas.
Integrante de uma ONG local, Sandra Aparecida Leoni
não é vítima da enchente. Mesmo assim, vive numa casa construída para quem
perdeu tudo na cheia de 2010.
Abordada de surpresa pela Folha, ela contou que paga R$ 200
mensais para morar em uma das casas. Admitiu que alugou "na surdina"
o imóvel doado ao cunhado de uma vizinha dela, Denivalda das Neves, 47. Ela
confirma.
Segundo ela, o cunhado, Genilson José
da Silva, recebeu a casa do governo, mas, como tem outra, optou por alugar a
que ganhou.
A aposentada Otília Luzinete da Silva,
58, também diz que mora de aluguel há três meses e paga R$ 200 mensais a uma
mulher que identificou apenas como Socorro --não quis dar mais detalhes, com
medo de perder a moradia.
Otília conta que perdeu sua casa na
cheia de 2010, mas não conseguiu se cadastrar para receber uma nova. Segundo
ela, a proprietária da casa teria mais dois imóveis alugados no mesmo conjunto
habitacional.
"Ela disse que não pode dar recibo
e pediu para eu dizer que sou parente dela, se alguém perguntar", afirmou.
"Mas eu não vou mentir."
PROBLEMAS
Em Palmares, desabrigados que receberam
casas reclamam de problemas nos imóveis (como pisos desnivelados) e da falta de
estrutura nos conjuntos habitacionais (falta de água, transporte público e
segurança).
A Folha ouviu em
outras cidades relatos sobre a existência do mesmo mercado clandestino de
imóveis em residenciais ligados à Operação Reconstrução, do governo de
Pernambuco, mas não obteve confirmação.
Bernardo Dantas/Folhapress
Nenhum comentário:
Postar um comentário