sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Cinco profissionais de imprensa assassinados neste mês. Algo precisa ser feito

IMPRENSA
     
Fevereiro de 2014 ainda nem acabou, mas já conta com ao menos cinco profissionais de imprensa assassinados no Brasil: o cinegrafista Santiago Andrade, da Band; o radialista Edy Wilson da Silva Dias, da Rádio Explosão Jovem (ES); Pedro Palma, dono do jornal Panorama Regional (RJ); o também cinegrafista José Lacerda da Silva, da TV Cabo Mossoró (RN); e Carlos Dias, locutor da Rádio Juventude (RN). Desses casos, quatro mortes ainda não foram esclarecidas e podem ter relação com o exercício da profissão.

De acordo com levantamento da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras, o Brasil tornou-se o país mais perigoso das Américas para jornalistas. Diante de um quadro tão grave, o Comunique-se entrou em contato com entidades jornalísticas e fez a pergunta que não quer calar: O que precisa ser feito? Como as organizações se movimentam para combater a violência e como cobram ações das autoridades?

Para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), combater a impunidade é um excelente começo. De acordo com o secretário-executivo da instituição, Guilherme Alpendre, o trabalho da entidade é “manter aceso o debate sobre questões de segurança tanto na imprensa quanto em instâncias governamentais que têm mandato para obrigar ao cumprimento de medidas de proteção”.
Jornalistas fizeram ato em memória de Santiago Andrade, da Band (Imagem: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
A vice-presidente da Federação Nacional do Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, defende a criação de uma política pública específica para garantir a integridade física dos jornalistas e demais trabalhadores da comunicação. Como exemplo, ela cita o “estabelecimento de normas para a atuação das polícias em manifestações públicas”. No mesmo âmbito, tem trabalhado a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), segundo seu diretor, Ricardo Pedreira, que estuda a possibilidade da criação, junto ao Congresso, de um protocolo padrão de atuação para os agentes em atos públicos.

Com o objetivo de promover práticas para colaborar com a segurança de seus associados, a Abraji já apoiou treinamentos de jornalistas, assim como a ANJ cogita a recomendação de cursos para os veículos que representa, que somam mais de 90 por cento da circulação brasileira de jornais.
Após denúncias públicas com envio de documentos, a Fenaj conseguiu fazer com que a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República criasse um grupo de trabalho para estudar possíveis medidas de combate à violência contra jornalistas, que agora está em fase de finalizar seu relatório. Dentre os temas propostos pela Federação, estão a obrigatoriedade do fornecimento de equipamentos de proteção individual e um seguro de vida diferenciado para profissionais que são submetidos a situações de risco.

Em busca de apoio junto às autoridades, Pedreira afirma que uma comissão da ANJ já esteve reunida duas vezes com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), nos últimos 15 dias. Atualmente, a Abraji trabalha na realização de um guia de segurança para jornalistas que desejam cobrir manifestações no Brasil e, para desencorajar novos crimes, a entidade torna públicas agressões e homicídios, contribuindo para maior visibilidade dos casos.

Ciente das responsabilidades dos empregadores, a Fenaj afirma que está cobrando há muito tempo, desde a morte de Tim Lopes, medidas para atenuar riscos, elaborando uma logística para proteger o profissional. No entanto, de acordo com a organização, “até hoje nada foi feito ou foi feito muito pouco, tão pouco que nós nem mesmo sabemos”.

Todas as instituições consultadas concordam com a importância da severidade da Justiça para combater a impunidade. “Se os criminosos, executores e mandantes, forem identificados e punidos, haverá certamente uma diminuição do número de casos”, argumenta Maria José.

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