sábado, 25 de agosto de 2012

Há algo errado nas contas


FERNANDO RODRIGUES *

Nesta semana, os candidatos a prefeito e a vereador no país todo --são cerca de 450 mil políticos -- tiveram de cumprir um ritual patético: fingir que divulgam os valores parciais de quanto arrecadaram e gastaram em suas campanhas.

A lei tem vários buracos, sendo dois os principais. Primeiro, permite a um político omitir de onde vem e para onde vai seu dinheiro. Segundo, os candidatos podem dizer que não receberam nem gastaram nada até agora, pois lançam todos os valores nas contas de seus partidos ou comitês de campanha -- onde tudo se mistura e fica incompreensível.

Ontem, havia dados malucos no site da Justiça Eleitoral. Na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad (PT) declarou gastos de R$ 10,7 milhões. Já José Serra (PSDB) informou que, até o momento, suas despesas equivalem a R$ 00,00. Isso mesmo: o petista consumiu mais de dez milhões de reais contra zero real do tucano.

É evidente que algo está errado nessa conta, embora tudo esteja 100% dentro do estipulado na lei. O que ocorre é que, enquanto Haddad lançou seus gastos em nome de sua campanha individual, Serra preferiu fazê-lo por meio de seu partido e ou comitê de campanha. Ambos estão corretos.

O relevante para o eleitor é quem está financiando os candidatos. E aí há também muita opacidade. Haddad e Serra dizem ter coletado cerca de R$ 1,5 milhão cada um. É óbvio que já captaram muito mais, mas as doações são feitas aos seus partidos e comitês gerais de campanha. Assim, nunca fica clara a origem do dinheiro. (* Folha de S.Paulo)

Em tempos de Lei de Acesso à Informação, as campanhas eleitorais no Brasil vivem ainda na pré-história quando se trata de divulgar suas finanças. Continua em pleno vigor entre os políticos o axioma de Delúbio Soares: 'Transparência demais é burrice'. A gênese do mensalão continua intacta.

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