quarta-feira, 9 de janeiro de 2013


Desafio do governo nesta 4ª feira é revelar o real problema de energia do país

Autoridades começam a quebrar o silêncio, mas ainda insistem em não revelar todos os detalhes dos riscos de uma crise de abastecimento de eletricidade

Para especialistas, risco de racionamento pode se arrastar pelos próximos meses ( Lucas Galli/Futura Press)

Acuado pelo mercado, que passou a considerar um eventual racionamento de energia neste ou no próximo ano, o governo federal viu-se obrigado a quebrar o silêncio e falar abertamente sobre o assunto. Antes mesmo da reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) – que está marcada para esta quarta-feira e que avaliará a situação crítica dos reservatórios das hidrelétricas –, o Ministério de Minas e Energia (MME) tentou afastar o risco de falta de abastecimento de eletricidade.
Embora a reunião do CMSE faça parte do calendário normal do colegiado que reúne as principais autoridades do setor, o encontro desta quarta-feira ganhou importância devido à seca que reduziu os níveis das barragens de quase todas as regiões do país aos mais baixos dos últimos anos. Diante de um cenário parecido com o de 2001, quando o país precisou racionar energia, espera-se que o comitê possa dar respostas claras sobre o tamanho do problema.
A pressão sobre as autoridades é ainda maior porque o fantasma do racionamento voltou em meio à série de quedas de energia de grandes proporções que já tinha colocado em xeque a percepção de segurança da população em relação ao sistema elétrico.
Tarifas – O Palácio do Planalto também não explicou como fará para chegar ao desconto de 20% nas contas de luz prometido para este ano, ante as recusas de importantes companhias de geração em participar do pacote e, principalmente, do alto custo de acionamento das usinas térmicas – o qual terá de ser repassado aos preços cobrados do consumidor.
Nesta segunda-feira, o ministro Edison Lobão foi à televisão descartar a hipótese de falta de eletricidade, mas admitiu que os consumidores terão de pagar o custo mais alto do fornecimento das térmicas. Nesta terça, o secretário executivo do MME, Márcio Zimmermann, argumentou que o repasse aos usuários não comprometerá o desconto bancado pela presidente Dilma Rousseff. "Não podemos misturar uma coisa com a outra", alegou.
Zimmermann lembrou que a estrutura do sistema elétrico brasileiro conta com a construção de térmicas justamente para que não falte energia em períodos de seca como a que hoje passa a maior parte do país. Para ele, o racionamento de 2001 ocorreu porque não havia reserva suficiente de energia para ser despachada quando os reservatórios praticamente secaram. "Hoje não temos esse problema", insistiu.
Reunião com Dilma – Após o retorno antecipado de suas férias, a presidente da República reuniu-se com Zimmermann para se inteirar do assunto. O secretário traçou um cenário benigno para o setor. "O ministro Lobão pediu que fosse relatado como está o sistema elétrico", disse após sair do encontro na noite desta terça-feira em Brasília.
Ao sair do Palácio da Alvorada, Zimmermann reforçou que o Brasil possui um "equilíbrio estrutural". "Temos geração suficiente para atender ao mercado, ao contrário do que tem saído (na imprensa)", disse, descartando o risco de racionamento de energia. Ele lembrou que as termelétricas têm ajudado atualmente para que o sistema fique equilibrado.
"A presidente normalmente acompanha (esse assunto)", declarou o executivo a jornalistas, lembrando que Dilma Rousseff teve reunião com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, antes de sair de férias. Segundo Zimmermann, ela pediu que cada um cumpra seu papel.
Horas mais cedo, o presidente do grupo CPFL Energia (empresa privada controlada por fundos de pensão das estatais), Wilson Ferreira Junior, esteve em Brasília e reforçou o discurso das autoridades. "Não há razão para pânico com apagão neste momento", disse, em visita ao Ministério da Fazenda. A exemplo do secretário, o empresário destacou que o Brasil possui atualmente o quádruplo de usinas a óleo e gás de dez anos atrás.
Se para Lobão o gasto com essas usinas foi de cerca de 400 milhões de reais nos últimos meses, algumas associações do setor já jogam esse impacto para a casa dos bilhões de reais. Por isso, o governo torce pela chuva até abril para que as térmicas sejam suficientes para atender à demanda atual e possam ser desligadas o mais breve possível.
O que, de fato, preocupa – Especialistas têm reiterado que a principal discussão não é se haverá falta imediata de energia no curto prazo. De fato, com todas as térmicas ligadas, haverá fornecimento para atender o país em janeiro e fevereiro. O que preocupa reside nos detalhes. O governo ainda não explicou como fará para recompor os reservatórios das usinas em meio a um dos verões mais quentes dos últimos anos e com chuvas abaixo da média. É provável que as térmicas tenham de ficar ligadas por muitos meses, impondo elevado custo ao segmento, para impedir que as represas se esviem rapidamente. Os preços, que já dispararam no mercado livre, já fazem com que algumas indústrias pensem em racionar o insumo – não por sua indisponibilidade, mas pelo valor proibitivo.
Ante a aceleração do crescimento econômico – variável sobre a qual o Planalto aposta todas as suas fichas – e a intenção de reduzir o custo da energia elétrica, é natural esperar que a demanda pelo serviço se recupere a partir de meados do ano. Surgirá então novo desafio. O país estará, nesta época, em plena época seca e os reservatórios terão de ser, minimamente, preservados. Somente chuvas torrenciais nas barragens permitiriam armazenamento com muita folga. Em outras palavras, o risco de racionamento transformou-se num fenômeno estrutural, que não abandonará o Brasil no curto prazo.
(com Estadão Conteúdo)



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